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É perigoso despertar as pessoas dos seus sonhos!

Publicado e 11/05/2020

As mídias mostram a tragédia, algumas exploram esse lado para vender mais, o medo nos toma e o instinto de sobrevivência é ativado. Interessante observar e compreender a forma como cada pessoa reage diante dos percalços da vida. Embora um cenário de pandemia escancare isso de maneira brutal, não é de hoje que me pego admirando o quanto somos frágeis diante de nossas emoções.

A vida pede pausa e nos dá a chance de uma reflexão sobre o que vale a pena. Um breve momento de parada na incessante correria de sempre. Oportunidade seria de olharmos para dentro de nós e observarmos o que há lá dentro. Como água em um reservatório, quando misturada e agitada não é possível ver o conteúdo, mas ao esperarmos um instante tudo volta ao lugar e podemos ver o que há no fundo. Somos constantemente a água agitada, misturados com o conteúdo do mundo, do outro e das nossas próprias fantasias. Fantasias essas, criadas muitas vezes para justificar nossas escolhas inconscientes, nossos fracassos e nossas dores. Aí o medo de olhar o que realmente está no fundo, no profundo do nosso ser.

"Viver a realidade tal qual ela se apresenta pode ser angustiante, principalmente para quem não está maduro emocionalmente"

Viver a realidade tal qual ela se apresenta pode ser angustiante, principalmente para quem não está maduro emocionalmente. Compreender que mesmo com todas as nossas mazelas, somos dignos de respeito, é contraditório ao discurso que ouvimos e reproduzimos diariamente. Nele, cobramos a busca pela perfeição, o eterno descontentamento com o que tenho e o que sou, pois sempre é possível mais. Pregamos a liberdade e talvez nenhuma outra geração tenha tido tanta oportunidade de ser livre quanto a nossa. E o que fazemos? Nos aprisionamos na interminável busca por padrões, na falsa ideia de uma autenticidade, que de autêntica não tem nada, pois se não faço o que dizem não sou bom o bastante. Criamos desculpas socialmente aceitáveis para não parar este movimento. – “Tenho medo de cair na zona de conforto”, é o que escuto da maior parte dos profissionais em seus discursos de convencimento de si mesmos, sobre o quanto a sua busca alucinada e alienada é importante para lhe fazer ser uma pessoa melhor.  Entrar em contato com nosso EU é lembrar que ele é cheio de falhas. Como posso encarar um mundo que me cobra ser sempre o melhor se quando olho no espelho vejo defeitos? O que fazemos então? Simples! Negamos a existência deles, criamos um mundo onde as minhas falhas não são minhas, mas resultado de um contexto macro. A culpa é de qualquer um, menos das minhas escolhas.

Conveniente observar como conseguimos adaptar nossos discursos, intenções e vontades de maneira que pareça bonito e que eu tenha razão. Aliás, adaptar discursos parece ser a nova moda nas redes sociais. Discursos belíssimos sobre como o meu comportamento impacta no outro, a palavra empatia deve estar sendo a campeã de publicações este ano. Felizes seríamos se ao pronunciá-la automaticamente colocássemos em prática, porém a realidade é cruelmente contrária. Tomemos como exemplo a pandemia.

Ficar em casa nesse momento salva vidas e isso não está em discussão, mas hipocrisia seria não considerarmos todo impacto que causamos aos outros antes de nos colocarmos reclusos. Quantas vezes interferi na vida do outro antes desta pandemia, feri, julguei, machuquei... Tenho consciência disso? E dentro do meu cenário fantasioso onde hoje me protejo fisicamente, quando continuo disparando palavras duras e incitando o ódio nas redes sociais, estou eu contribuindo para a saúde do outro? Não faço o vírus circular, mas desmoralizo sem dó quem pensa diferente de mim. Quando quero obrigar a todo custo o outro a enxergar o que eu vejo sem antes compreender os motivos que os leva a pensar diferente, ou quando generalizo os comportamentos e julgo de maneira repetitiva as ações de alguém, talvez esteja perdendo a oportunidade de olhar a parte de mim que grita, se incomoda e está tentando me mostrar alguma coisa. Da mesma maneira, se negligencio as regras de proteção indicadas por especialistas para salvar a minha vida e a vida dos outros, nego a existência de algo que já está acontecendo e procuro loucamente indicativos para sustentar minha ideia, então talvez este seja o sonho que criei para não ter que lidar com o medo, a angústia, a ansiedade que a situação me causa. Incrível perceber que um tenta despertar o outro do seu sonho, pois é mais fácil trazer a galera pra minha fantasia que despertar dos meus devaneios e encarar que independente de estar ou não tomando a melhor decisão nesse momento todos nós de alguma forma estamos nos alienando e procurando a melhor maneira de sobreviver, fisicamente, emocionalmente e financeiramente.

"Inevitavelmente alguns de nós estaremos errados em algum momento. Hoje sou eu, amanhã é você, desde que estejamos dispostos a reconhecer isso. Se não o faço sou negligente comigo e com o outro que sofrerá as consequências das minhas escolhas."

Os conflitos de ideias sempre existirão e são saudáveis. Inevitavelmente alguns de nós estaremos errados em algum momento. Hoje sou eu, amanhã é você, desde que estejamos dispostos a reconhecer isso. Se não o faço sou negligente comigo e com o outro que sofrerá as consequências das minhas escolhas. Minhas ações sempre impactaram a sua vida, as suas, sempre impactaram a minha. Sempre estivemos conectados, a vida toda tivemos a oportunidade de salvar ou perder vidas. Neste momento isso ficou ainda mais evidente. Então se você se sente confortável julgando o outro eu te convido a deixar a água agitada que está em você baixar e ver o que há lá no fundo.

Coragem é o que precisamos para despertar dos nossos sonhos. Lucidez é o que nos falta muitas vezes. Discernimento é o que necessitamos para tomar decisões que sejam coerentes e assertivas. Humildade é o que nos faz baixar a bola e perceber onde erramos. E SER HUMANO é o nome da nossa condição. Enquanto negarmos que somos falhos e não nos permitirmos olhar com clareza para onde pisamos na bola, continuaremos em nossa ilusão de estarmos corretos e prejudicando quem está a nossa volta. Que sejamos audaciosos na hora de compreender que o bem de todos muitas vezes não é o mais confortável para mim. Que tenhamos a sensatez de ouvir o outro e ajudá-lo com verdadeira empatia quando ele errar. E principalmente que não tenhamos a soberba de achar que estamos totalmente certos. Finalizo dizendo que apesar de perigoso, despertar é a única maneira de viver de verdade.

Desperte! Acordar é muito pouco. (Dulce Miller)


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